MOTIVO


                         Cecília Meireles

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
- não sei,não sei.Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto.E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.

Flor de poemas.Rio de Janeiro,Companhia José Aguilar Editora,1972.

POEMETO II

                         Roberto Belo

Quando eu morrer,
Peço que ninguém chore,
Pois partirei para uma nova terra
Bem melhor do que esta.

E não se preocupem
Porque lá continuarei desempenhando
Meu ofício de poeta.

Não sou digno de lágrimas!

Chorem pelas crianças nas ruas,
Pelas famílias separadas,
Pela desigualdade humana.

A Arca da Desigualdade,dos Sentimentos e da Luxúria.São Paulo,All Print
                                                                          Editora,2009.

PEDE-ME

                         Roberto Belo

Pede-me e eu te darei poesias constantes,
E falarei do teu amor,
E cantarei teu louvor.

Pede-me e eu te darei do melhor vinho,
E beberemos a noite toda,
E seremos eternamente festa.

A Arca da Desigualdade,dos Sentimentos e da Luxúria.São Paulo,All Print 
                                                                           Editora,2009.