Filme "A Arte do Barro"

O Poeta e Escritor Roberto Belo finalizou as filmagens do curta-metragem "A arte do barro",em Tracunhaém,Pernambuco,que foi promovido pelo Instituto Marlin Azul,com patrocínio da Petrobras Cultural,conforme edital público publicado no Diário Oficial,em 2010.

O filme contou com a participação de 40 pessoas no elenco e 10 na produção.Parabéns aos moradores desta cidade que contribuíram de forma significante para o engrandecimento da cultura local.

O lançamento nacional do filme está previsto para o mês de abril,no Rio de Janeiro.Além de ser apresentado na cidade de origem,o curta será exibido nos festivais de cinema e vídeos nacionais e internacionais.A partir de 2011 será disponibilizado em dvd para distribuição gratuita entre as instituições culturais de todo o país.

Segue,na íntegra,o conto de Roberto Belo selecionado pelo projeto Revelando os Brasis IV:


A Arte do Barro

Partiu João caminho afora montado no seu jerico Marreco. O sol escaldante da Zona da Mata pernambucana os acompanhava ao som de maracatus, pois a caminhada parecia não ter fim. A estrada de um lado ao outro enfeitada com cana de açúcar, afinal, são mais de trinta engenhos que dominam a pequena cidade de Tracunhaém. Engenhos que servem apenas como campos de plantio para outros senhores de municípios vizinhos.

João não tem vergonha de ser bóia-fria como tantos outros de sua cidade. Tem mesmo é medo da fome. Sem muito serviço, largou hoje mais cedo do canavial. Mora próximo.Com a ajuda do companheiro, que comprara com o dinheiro das esculturas de barro, sai pela estrada sem rumo, sem direção certa. Diverte-se com o bicho ao caminhar. O Marreco mais parece um cavalo,_pensa João consigo mesmo. E sorri a toa. Lembra-se do pai, que morrera ano passado, e que sonhava ter um jerico desse equipado. Na verdade, um amigo para enfrentar a vida.

Chega enfim ao centro da cidade. Fala com meia dúzia de gente que passa. Difícil dar de cara com pessoas desconhecidas. Passa pela praça e se benze ao ver a igreja.Cumprimenta a freira Maricota que está animada mostrando o templo aos novos frades que visitam a pequena Tracunhaém. Saindo, encontra um grupo alegre dançando ciranda. Desce do animal e também dança. Gosta de ver o grupo reunido e as senhoras cantando sem medida. Agora entendo que é daí que João tira suas obras de arte, que nascem frutos da imaginação para o barro. 

Marreco com sede foge sozinho para casa. Conhece a cidade como sua pata. João o segue logo após. O homem chega a casa e vai pro terreiro fazer o que mais sabe: trabalhar o barro. João é oleiro. Tracunhaém é a cidade dos oleiros. Aqui todos sabem criar figuras e produzir arte popular, que é a arte da vida. O oleiro pede para sua mulher,dona Joana, tombar água da cacimba para amolecer o seu material de trabalho. A vida
em Tracunhaém é assim: igreja, cemitério, correios, praça, delegacia e chafariz. Simples e pacata. Os moradores, cansados da amarga vida na cana de açúcar, seguem felizes através do doce que o barro proporciona. E é do barro que as manifestações culturais aparecem e divertem a cidade inteira.

Ora, ao lado da cultura da cana, a cultura do barro serve muitas vezes como alternativa do trabalho no  campo. O barro é uma opção para aqueles que saem da cana em busca de um trabalho melhor. É o meio de sobrevivência de mais da metade da população. Tanto que em cada esquina tem uma lojinha do barro repleta de santos casamenteiros, santos milagrosos, nossa senhora e tantos outros mais. Em cada esquina tem um pedaço de gente, um pedaço de mundo. Além dos santinhos, tem ainda feituras de bonecos, panelinhas e mais bichinhos para criança.

Aqui em Tracunhaém é assim, todo mundo gosta do que faz. Por isso, enquanto a cidade dança e canta, o barro é trabalhado dia e noite, noite e dia, na entrada e no final da rua. O processo é lento e milagroso. Deve-se antes de tudo fazer a mistura certa,escolher uma boa qualidade de barro, entender da ciência do queimar e arrumar cada peça no forno; depois começa o oleiro colocando lenha grossa na boca do forno, durante umas oito horas aproximadamente até caldear, deixando ficar em brasa a parte de cima, em seguida, põe lenha fina, já na parte de dentro, sob o lugar onde as peças foram cuidadosamente arrumadas.

Assim é o dia a dia em Tracunhaém, uma pequenina cidade do interior de Pernambuco,com pouco mais de doze mil habitantes; onde os moradores vivem de forma precária,mas que encontraram a felicidade na arte do barro.

Confira Aqui Algumas Fotos das Gravações. E veja também esses dois vídeos:





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