Mark Twain:Morrera a 100 anos,mas vale a pena ler e reler suas obras

Mark Twain: 100 anos sem um dos autores mais influentes da literatura mundial

"Foi um profundo filósofo com a visão de um profeta", afirmava o jornal "San Francisco Call" após saber da morte do escritor e jornalista Samuel Langhorne Clemens no dia 21 de abril de 1910 - ou Mark Twain, como ficaria conhecido na posteridade.

Seu legado prolífico, com títulos como "As aventuras de Tom Sawyer", "Huckleberry Finn" e "Príncipe e Mendigo", o tornou merecedor do título de "pai da literatura americana", como definiu o escritor William Faulkner em 1955.

Já em seu obituário se considerava que Mark Twain evoluiu de cômico brincalhão a "uma das grandes figuras literárias de seu tempo", embora o reconhecimento de seus contemporâneos não adoçasse seu final, marcado pelas tragédias familiares e a perda de seus entes queridos.

As origens de Twain dizem muito sobre sua obra posterior: nasceu no dia 30 de novembro de 1835 na cidade de Flórida (Missouri, EUA), mas foi o porto de Hannibal, para onde se transferiu com sua família aos quatro anos, o cenário à beira do Mississipi no qual se inspiram as correrias de Tom e de Huckleberry, em que o autor colocou muitas de suas vivências.

Entre elas, sua relação com a escravidão, que viveu de perto em Mississipi, um estado que a permitia, e em sua própria casa, já que seu pai teve um escravo e um de seus tios teve vários com os quais o jovem Sam passava longas horas escutando contos e cânticos espirituais.

O escritor começou escrevendo artigos jornalísticos, profissão à qual chegou após uma viagem complicada com quase 18 anos que o levou a Nova York, onde colaborou em distintas publicações.

Em 1857 retornou ao Mississipi e após se dedicar a pilotar navios pelo rio, a explosão da guerra civil (1861-1865) o obrigou a abandonar este trabalho e o conduziu rumo a Nevada, onde pretendia dedicar-se a busca de ouro.

Voltou em breve ao jornalismo no "Territorial Enterprise", na Virgínia, onde usou pela primeira vez o pseudônimo com o qual passaria à posteridade.

O primeiro ponto de inflexão em sua carreira como escritor chegou em 1865, com a publicação de um conto em diversos periódicos.

Twain conseguiu um êxito notável com este conto, mas ainda mais com seus artigos de viagens, compilados depois em um livro, "Guia para viajantes inocentes" (1869).

Enquanto continuava sua carreira como jornalista e começava a de escritor, Twain se mudou para várias cidades, se casou com Olivia Langdon e teve sua primeira filha, Susy, que morreu aos dois anos de difteria.

Um drama que o levou a se voltar para crítica social antes de se concentrar na ficção pura que, no entanto, sempre teve um forte cenário de realidade que demonstrava a clara vocação antropológica do escritor.

Em 1876 chegaram "As aventuras de Tom Sawyer", que ia muito além da literatura infantil e juvenil na qual se enquadrou em um primeiro momento e que apontava a vertente social que o escritor sempre daria a seus livros.

"Príncipe e mendigo" (1881), "Vida no Mississipi" (1883), "Um ianque na corte do rei Artur"" (1889) e aquela que é sem dúvida sua obra mais famosa, "As aventuras de Huckleberry Finn" (1884), na qual satiriza a escravidão predominante nos estados sulinos.

Um questão-chave e polêmica em suas obras, é que se por um lado contêm críticas duras à escravidão, também mantém posturas que alguns críticos consideram ambíguas por seu conteúdo racista.

Entre 1890 e 1900 Twain e sua família se dedicaram a viajar por todo o mundo e o escritor foi testemunha das diferenças sociais, que imortalizou em suas obras e desde 1901 até sua morte foi o presidente da Liga Anti-imperialista.

Uma experiência vital que o fez ter um profundo conhecimento da realidade na qual viveu e que colocou em suas novelas. "Supor está bem, mas descobrir é melhor", afirmou Twain, que sempre quis ser uma testemunha direta.

E esse realismo de seus relatos, com uma linguagem simples e divertida, fez dele um dos escritores mais influentes da literatura americana.

Foi o primeiro grande escritor americano que não procedia da costa leste; o primeiro a utilizar uma linguagem que se parecia a que o povo falava na realidade e, sem dúvida, um dos primeiros escritores nos quais a análise social se aliou com a delicadeza.

"Toda a literatura americana começa com ele. Não havia nada antes. Não há nada depois", assinalou Ernest Hemingway.

Fonte:GoogleNotícias(Agenc. EFE)

Dia Nacional do Livro Infantil :18 de abril

O dia 18 de abril foi instituído como o dia nacional da literatura infantil, em homenagem à Monteiro Lobato.

“Um país se faz com homens e com livros”. Essa frase criada por ele demonstra a valorização que o mesmo dava à leitura e sua forte influência no mundo literário.

Monteiro Lobato foi um dos maiores autores da literatura infanto-juvenil, brasileira. Nascido em Taubaté, interior de São Paulo, em 18 de abril de 1882, iniciou sua carreira escrevendo contos para jornais estudantis. Em 1904 venceu o concurso literário do Centro Acadêmico XI de Agosto, época em que cursava a faculdade de direito.

Como viveu um período de sua vida em fazendas, seus maiores sucessos fizeram referências à vida num sítio, assim criou o Jeca Tatu, um caipira muito preguiçoso.

Depois criou a história “A Menina do Nariz Arrebitado”, que fez grande sucesso. Dando sequência a esses sucessos, montou a maior obra da literatura infanto-juvenil: O Sítio do Picapau Amarelo, que foi transformado em obra televisiva nos anos oitenta, sendo regravado no final dos anos noventa.

Dentre seus principais personagens estão D. Benta, a avó; Emília, a boneca falante; Tia Nastácia, cozinheira e seus famosos bolinhos de chuva, Pedrinho e Narizinho, netos de D. Benta; Visconde de Sabugosa, o boneco feito de sabugo de milho, Tio Barnabé, o caseiro do sítio que contava vários “causos” às crianças; Rabicó, o porquinho cor de rosa; dentre vários outros que foram surgindo através das diferentes histórias. Quem não se lembra do Anjinho da asa quebrada que caiu do céu e viveu grandes aventuras no sítio?

Dentre suas obras, Monteiro Lobato resgatou a imagem do homem da roça, apresentando personagens do folclore brasileiro, como o Saci Pererê, negrinho de uma perna só; a Cuca, uma jacaré muito malvada; e outros. Também enriqueceu suas obras com obras literárias da mitologia grega, bem como personagens do cinema (Walt Disney) e das histórias em quadrinhos.

Na verdade, através de sua inteligência, mostrou para as crianças como é possível aprender através da brincadeira. Com o lançamento do livro “Emília no País da Gramática”, em 1934, mostrou assuntos como adjetivos, substantivos, sílabas, pronomes, verbos e vários outros. Além desse, criou ainda Aritmética da Emília, em 1935, com as mesmas intenções, porém com as brincadeiras se passando num pomar.

Monteiro Lobato morreu em 4 de julho de 1948, aos 66 anos de idade, no ano de 2002 foi criada uma Lei (10.402/02) que registrou o seu nascimento como data oficial da literatura infanto-juvenil.

Fonte:Jussara de Barros - Graduada em Pedagogia(Equipe Brasil Escola)

Literatura infantil resiste

Em tempos de games violentos, programas de TV de conteúdo duvidoso e toda sorte de informação a um clique de distância, é mais fácil acreditar que os contos de fadas estão com os dias contados. Ledo engano. Hoje, quando se comemora o Dia Nacional do Livro Infantil (que também homenageia Monteiro Lobato, que completaria 128 anos), a realidade não se mostra pessimista.

A pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, divulgada em 2008 pelo Instituto Pró-Livro, aponta ávidos novos leitores. Na faixa etária 5-10 anos, a média anual de leitura é de 6,9 livros. Entre os maiores (11-13 anos), é ainda mais positiva: 8,5. O mesmo levantamento indica 1,3 livro/ano por habitante.

"Nunca a criança esteve tão perto da ficção como hoje, mesmo que a partir dos games. E gosta dos livros porque chegaram até aqui como melhor suporte para literatura", diz a escritora Andréa del Fuego, de São Bernardo, que, depois de dois títulos juvenis, espera chegar às lojas seu primeiro infantil, Irmã de Pelúcia.

O fato de os aparatos tecnológicos não substituírem os livros não facilita o papel dos autores. "Realmente é um desafio escrever para a criança de hoje. Competimos com tantos tipos de mídia e temos de evoluir junto para prender a atenção dela", afirma Eva Furnari, que completa 30 anos de carreira em agosto.

Famosa pela personagem Bruxinha, que nasceu em formato de tira, e também por seus trabalhos como ilustradora, Eva acredita que é preciso acompanhar a inquietação desse momento. "Hoje, a linguagem tem de ser bastante ágil, sem grandes descrições. E isso se modifica sempre: cada geração supera a anterior em diversos aspectos."

Assim como o apetite dos leitores por histórias, o nicho também expandiu. De 2007 para 2008 o mercado editorial registrou aumento de 14% em títulos de literatura infantil. No mesmo período, o adulto despencou 20%. Os números foram medidos na pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro, elaborada pela Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), da USP. NADA DE CLICHÊ! Alfabetizadas e precocemente digitalizadas, crianças e adolescentes contemporâneos se sentem confortáveis apenas quando mergulham em histórias parecidas com seu cotidiano, certo? Não exatamente.

"Eles estão muito disponíveis a descobertas. Se incentivados, jogam videogame, mas depois sentam-se para ler ou ouvir qualquer tipo de história. Para nós, autores, escrever a partir dessas características é tolher a criatividade", afirma Sérgio Ribeiro Lemos, o Seri, cartunista do Diário que lançou dois títulos infantis neste ano.

Para o editor e escritor Rodrigo Lacerda, o excesso de adereços que levam a essa realidade tecnológica é dos maiores erros encontrados no setor. "O livro é uma porta para que eles conheçam outros aspectos, outras realidades. Em O Fazedor de Velhos (título juvenil lançado há dois anos) incluí até referências a ópera, gênero que não costuma ser muito bem aceito pelos mais jovens, e pintura. Só tive boas respostas com respeito a isso", diz Lacerda.

COMO INCENTIVAR? A curiosidade natural das crianças é grande aliada, mas os adultos podem evitar que uma futura rejeição. "Gosto de uma frase de Mario de Andrade: ‘Conselho é que nem sol de inverno: ilumina, mas não aquece''", diz Lacerda. Para o escritor, a melhor maneira de formar leitores é dar exemplo. "Tem de ler também, não adianta só falar. Também tem de dar liberdade absoluta para criar um cânone próprio. O filho tem de ter o direito de escolher o que gosta ou vai se desinteressar, vai achar que nesse mundo não há espaço para sua sensibilidade", defende.

Autores se divertem ao criar Para quem se dedica às histórias adultas, surpreender-se matutando histórias infantis pode ser bastante recompensador - principalmente no que se refere ao prazer de escrevê-las. Essa é a experiência dos escritores Rodrigo Lacerda e Andréa del Fuego.

Em 2008, Lacerda trabalhava em um romance e estava, como ele mesmo diz, "sofrendo" com o pesado processo criativo. "Me veio então a história do feiticeiro que tinha o poder de envelhecer as pessoas. Quando sentei para escrever, saiu muito rápido. Era instintivo. No caminho, o personagem mudou: um sábio que ajudava as pessoas a amadurecer. Dediquei à minha filha, Clara, que na época tinha 12 anos".

O autor diz que manteve a espontaneidade e adequou a linguagem a um formato simples, próprio para o público-alvo. "Quando fui à Flip (Festa Literária Internacional de Paraty) no ano passado, o (dramaturgo) Domingos de Oliveira disse que existe o país dos livros escritos, que parecem estar prontos desde o começo. Para mim foi assim."

Andréa se surpreendeu quando se deu conta de que a trama de A Sociedade da Caveira de Cristal, que vinha pensando, só se adaptaria ao formato juvenil. "Foi delicioso. Como não convivo com crianças, recorri à minha própria infância. Naquela época, não havia problema nenhum, só certezas. Escrevi com essa voz, em primeira pessoa. Eles se identificaram muito". relembra. Além deste livro, lançou no ano passado Quase Caio. No fim do ano passado, A Sociedade teve os direitos vendidos para uma produtora de cinema, que está captando recursos para começar as filmagens.

Fonte:Ângela Corrêa - Do Diário do Grande ABC.

E-book, o livro sem capa














Com um número crescente de pessoas migrando para Kindles e outros leitores eletrônicos, e com a chegada do iPad da Apple ao mercado, nem sempre é possível ver o que os outros estão lendo ou mostrar nossos próprios gostos literários.

Não é possível reconhecer um livro pela capa se ele não apresentar uma.

Entre outras mudanças trazidas pela era do livro eletrônico, edições digitais estão acabando com as capas de livros.

É uma perda para editoras e autores, que apreciam propagandas gratuitas dos seus livros impressos. Se uma pessoa reparar nas sobrecapas dos livros que outras pessoas leem no avião ou no parque, ela pode decidir experimentar a leitura.

Até mesmo na era digital, editoras acreditam que livros necessitam de representações gráficas - nem que seja apenas para a campanha de marketing online. Apesar do formato, “todos parecem precisar do que conhecemos como uma capa para identificálos”, diz Chip Kidd, diretor de arte associado da Alfred A. Knopf. Kidd desenvolveu mais de mil sobrecapas para autores.

A indústria musical passou por uma transição semelhante quando aparelhos digitais de música apareceram, mas saiu dessa encontrando novas formas de exibir a arte das capas de CDs em sites onde as músicas são compradas e nas telas de iPods onde elas são executadas.

Editoras já tiveram alguma experiência em adaptar sobrecapas de livros para o mundo digital, já que agora muitas pessoas compram pela internet até as cópias impressas.

- Geralmente recebemos pedidos para aumentar as letras - conta Mario J. Pulice, diretor de criação da subdivisão de comércio para adultos da Little, Brown & Co. - Porque quando está na Amazon, você não consegue ler o nome do autor.

Já que as editoras examinam propagandas direcionadas no Google e outros mecanismos de busca ou sites de redes sociais, elas esperam que uma capa digital continue a melhor maneira de representar um livro.

Alguns leitores esperam que os produtores de aparelhos eletrônicos acrescentem funções que permitam que os usuários espalhem o que eles estão lendo.

- As pessoas gostam de ostentar o que estão fazendo e o que gostam - observa Maud Newton, blogueiro famoso de livros. - Então, consequentemente, haverá uma forma de as pessoas fazerem isso com leitores eletrônicos.

Por enquanto, muitas editoras contam com a influência do Facebook.

- Antes, você podia ver três pessoas lendo um determinado livro no metrô - conta Clare Ferraro, presidente de Viking and Plume, editora do Penguin Group USA. - Agora você se conectará ao Facebook e verá que três dos seus amigos estão lendo o livro.

FONTE:AmigoDoLivro(JornalDoBrasil - RJ, Motoko Rich (The New Yourk Times)

Literatura brasileira de pobre ou o pobre na literatura brasileira?










A temática atingiu uma infinidade de exemplos que perpetuaram o enredo de diversas obras

Vários escritores da nossa literatura buscaram recriar a trajetória do indivíduo pobre nos seus romances. A temática atingiu uma infinidade de exemplos que perpetuaram o enredo de diversas obras. Tomamos alguns exemplos: o pobre Jeca Tatu, personagem de Monteiro Lobato; o pobre Leonardo, de Vidas Secas, personagem de Graciliano Ramos; o pobre Bentinho, do clássico Dom Casmurro, de Machado de Assis. A meu ver, o pobre é representado enquanto personagem, pois causa polêmica e uma espécie de denúncia social, contrastando com as desigualdades sociais, já explicitas pela nossa sociedade.

É notável dizer que quando falamos da representação do pobre na literatura brasileira, precisamos relatar que até o último quartel do século XIX, a figura do pobre era considerada a do escravo, o negro e, secundariamente, o índio. Ou seja, a questão social misturava-se com a questão racial. Exemplos na prática? A figura do personagem malandro e pobre Leonardo Pataca, do romance Memórias de um Sargento de Milícias, que ao ser abandonado pela família acaba sendo criado pelo padrasto.

A representação do personagem pobre na nossa literatura, na realidade externa social, associava-se à doença, à imundície, à degeneração moral e ao enfraquecimento da raça. Tais características eram, em síntese, um dos alicerces teóricos do pensamento erudito da elite brasileira, até os primeiros anos do século XX. Isto é, a representação imaginária do pobre estruturava-se em função da patologia, sendo caracterizado como feio, fedido, animalesco, ignorante, rude, cheio de mitos e superstições, uma vez que idolatra o outro da burguesia bastarda na projeção de tudo o quanto ela rejeita.

Contemporaneamente falando, o favelado, outra categoria do marginalizado pobre e urbano, conseguiu achar expressão direta na obra Cidade de Deus, do escritor Paulo Lins. O escritor carioca, sobretudo, enriqueceu seu romance através de jargões específicos, as gírias tribais do contexto carioca, o falar à moda dos traficantes de drogas, dos usuários, dos moleques de rua, dos vagabundos etc.

Pausa para uma breve digressão sobre a origem do termo favela. Sua etimologia remonta ao contexto histórico da Guerra de Canudos, que ocorrera no Sertão Nordestino. Existia uma planta de nome favela na mesma região. Naquela época, os soldados que foram enviados a essa região retornaram ao Rio de Janeiro e deixaram de receber seus soldos, e logo foram se instalando em moradias provisórias no Morro da Providência, daí surgem as primeiras favelas. Enfim, o pobre na literatura ou a literatura de pobre sempre terão vez no manancial cultural brasileiro. Até a próxima coluna!
FONTE:Cristiano Mello,In Jornal Colombo.

João Silvério Trevisan recebe o prêmio de melhor romance do ano pela APCA


O escritor João Silvério Trevisan recebeu o prêmio de melhor romance do ano pela Associação Paulista de Críticos de Artes (APCA), com seu novo livro Rei do Cheiro. A cerimônia de premiação ganhou um brilho especial com a divertida apresentação dos atores Maria Fernanda Candido e Dan Stulbach. Ao contrário do que uma parte da imprensa preconceituosamente publicou, o Rei do Cheiro não é um romance com temática homossexual.

O livro aborda criticamente a formação e o crescimento da moderna elite brasileira, inchada com seus novos ricos. Trata-se de um panorama histórico do Brasil contemporâneo, construído ficcionalmente a partir de fragmentos sociais produzidos pela mídia no período de 1950 a 2006.

Subterrâneos do poder

No enredo de Rei do Cheiro, o personagem Ruan Carlos Coronado é o passaporte de embarque para uma viagem vertiginosa, cuja atração principal é um enorme espelho onde se reflete o avesso do glamour e do poder.

A saga começa com a migração do jovem e ambicioso Ruan para o centro de São Paulo, em busca do "sonho dourado". Fabricando produtos cosméticos no fundo de sua loja na Rua 25 de Março, começa a construir uma pequena fortuna. O sucesso comercial é atingido com o desodorante My Fire, produzido com ylang-ylang, essência com efeitos afrodisíacos.

Mas o momento crucial do romance se passa em 2006, durante os ataques do grupo criminoso Primeiro Comando da Capital (PCC) - rebatizado CROC (Comando Revolucionário Organizado do Crime). É durante a inauguração de um teatro em São Paulo, onde está reunida a nata da elite brasileira, quando os bandidos do CROC articulam um explosivo sequestro.

Instala-se uma situação parecida com a que o cineasta Luís Buñuel explorou no filme O Discreto Charme da Burguesia. É nesta situação limítrofe que a elite e o próprio Brasil se revelam em sua verdade.

Caos


O final de Rei do Cheiro aponta dois fatos. Primeiro, instalou-se o caos na realidade brasileira sem que ninguém se incomode em identificar quem são os verdadeiros bandidos.

Como escritor ficcional, ensaísta, roteirista, diretor de cinema, dramaturgo, coordenador de oficinas literárias, jornalista e tradutor, segundo a APCA, os críticos de arte premiaram a obra de um intelectual maduro e multifacetado. Para a associação, Trevisan é conhecedor das fronteiras exatas de suas facetas, sendo que cada uma delas se dedica a batalhas distintas de uma guerra única: viver e compreender o mundo atual.

Acompanhe o bate-papo com João Silvério Trevisan

Os extremos da vida do seu protagonista, Ruan Coronado, são de tal modo invadidos pela presença midiática que acabam se transformando quase num reality show. Você acredita que a sociedade contemporânea se tornou um produto da indústria cultural?

João Silvério Trevisan - Desde a invenção do rádio, a indústria cultural vem crescendo e se impondo. Na sociedade contemporânea, somos manipulados 24 horas por dia pela publicidade, pelas novelas, pela música comercial, pelos programas de entretenimento, através dos quais aprendemos a consumir tudo o que for mais óbvio. Estamos de tal modo expostos que nossas vidas se tornaram um grande reality show. O sucesso de programas como o BBB ou A Fazenda se explica por espelharem nossas necessidades exibicionistas, que por sua vez precisam do voyeurismo para se completar. Somos ao mesmo tempo exibicionistas e olheiros. O entorpecimento daí resultante é uma maneira de enfrentar nossa espantosa solidão.

Ismael, o líder do CROC, é um bandido politizado, bonitão e fã de filmes clássicos. A população das periferias de São Paulo envia mensagens de apoio a Ismael. Você acha que os moradores da periferia estão a favor dos bandidos?

JST - Se a impunidade grassa entre a elite no poder e aí um grupo vem se contrapor a essa elite, mesmo que fora dos padrões legais, é natural que os excluídos do grande poder tenderão a sentir simpatia com os rebelados, mesmo porque são muitas vezes eles próprios inimigos dessas leis. Os ataques do PCC em 2006 tiveram clara aprovação de certos setores da população menos favorecida das periferias, como era possível constatar nas ruas e nas reportagens dos jornais. Muitos jovens, sobretudo, saudaram a explosão tanática das chamas de maio de 2006 como uma possível saída para sua revolta. Nas minhas pesquisas, encontrei muitos grupos de rap afinados com as propostas destrutivas do PCC - e não só na internet. No próprio centro de São Paulo pude encontrar CDs que louvavam a valentia dos bandidos do PCC. Aproveitei sugestões dessas canções no meu romance e às vezes até usei pequenos trechos de letras, temperando os paradoxos. O leitor poderá ver como aquilo é de uma selvageria assustadora. E, com certeza, não saiu da minha cabeça de ficcionista.

Qual a importância de Rei do Cheiro para a sociedade brasileira hoje?

JST - Bom, eu não acredito em missão salvacionista da produção ficcional e das artes narrativas. Mesmo porque denúncia virou função da mídia. Mas sempre achei que escritores podem ser para-raios do seu tempo e, através da expressão ficcional, têm potencial para transformar a realidade em alguma coisa para além dela, algo que se poderia chamar de Poesia, se isso for entendido como a capacidade de escancarar a crise de modo visionário. Sempre acreditei que há um paralelismo entre o profeta e o poeta. Então, com Rei do Cheiro, o que pretendi foi exatamente isso: marcar a lembrança com ferro em fogo. Se há alguma importância no que faço, e eu acho que há, então deve ser essa capacidade de insistir que o rei está nu e de inventar formas de sobreviver, com um fio tênue de esperança. Mas até quando?

Fonte:Wagner Ribeiro, do MundoMais/Especial para BR Press.Yahoo!Notícias.

Pesquisa sobre Livros e Conteúdo Digital


O Observatório da Leitura, em parceria com a CBL, Câmara Brasileira do Livro e Imprensa Oficial divulgou no final da manhã desta quarta-feira, 31/03, dentro do 1º Congresso Internacional do Livro Digital, uma pesquisa inédita sobre o consumidor de livros e de conteúdo digital no Brasil. Galeno Amorim e Maurício Garcia apresentaram os resultados.

O Brasil tem 95 milhões de leitores, sendo que cada brasileiro lê em média 4,7 livros por ano. Um total de 77 milhões não tem hábito de ler livro algum. Em relação a livros digitais, 3% disseram já ter tido acesso. Uma outra pesquisa sobre conteúdo digital foi realizada com um grupo de leitores de São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Recife.

Esses leitores, de 16 a 40 anos costumam freqüentar livrarias e pertencem as classes A e B. Eles consideram a livraria o principal canal de distribuição e gostam muito de Megastores. As mulheres costumam comprar por impulso enquanto os homens pesquisam o preço nas livrarias para depois decidirem pela compra no local ou pela internet.

A princípio, o livro dentro de um computador ou notebooks foi rejeitado por problemas com luminosidade, bateria, dificuldades para anotações e impressão. Quando foi apresentado um e-reader, a maioria dos entrevistados achou o aparelho leve, fácil de operar, com bom apelo ecológico e boa capacidade de armazenamento. Mas disseram que não comprariam por enquanto, porque outros irão surgir nos próximos meses com muito mais aplicativos.

Foi feita a pergunta: quanto você estaria disposto a pagar por um e-reader? Os paulistas responderam R$ 1.500,00, os cariocas e gaúchos R$1.000,00 , e os pernambucanos R$ 250,00. O dado mais interessante da pesquisa veio com a pergunta: Quanto você pagaria por um livro digital? O resultado foi: ¼ do atual preço de capa de um livro impresso, ou seja, se uma obra impressa custar R$80,00 na livraria, o leitor pagará R$20,00 pela mesma obra digital.

Também foi feita a pergunta: Você pretende comprar livros digitais? Quase a totalidade dos entrevistados respondeu que NÃO. A principal alegação foi a de que o que está na internet é gratuito. Assim como com as músicas, a opção será baixar de algum lugar. Os entrevistados disseram que só comprariam livros digitais, se as editoras apresentarem novos atrativos.

Mais informações com a jornalista Gloriete Treviso – tel: (11) 9174-9174.
FONTE:Amigos Do Livro