A Poesia está viva!

O Poeta é um Fingidor
O Dia 21 DE MARÇO foi escolhido pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) como o dia da POESIA, em 16 de novembro de 1999, durante a 30ª Conferência Geral da UNESCO. O propósito deste dia é promover a leitura, escrita, publicação e ensino da poesia através do mundo.

Autopsicografia
(Fernando Pessoa)

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
Fonte:AmigosDoLivro

Morreu o escritor espanhol Miguel Delibes

MADRI — O escritor espanhol Miguel Delibes faleceu nesta sexta-feira aos 89 anos, informou a imprensa do país.

Miguel Delibes, nascido em Valladolid em 1920, no seio de uma família burguesa: seu pai era professor universitário e o avô, sobrinho do compositor francês Léo Delibes.

Doente de câncer há mais de 10 anos, o escritor teve seu estado de saúde agravado nos últimos dias, e morreu em casa, ao lado dos familiares, informaram fontes próximas.

Ele deixou uma extensa obra que prima pela defesa da natureza, de valores simples do árduo mundo rural do centro da Espanha de meados do século XX e de defesa da liberdade individual.

Autor de livros como "La sombra del ciprés es alargada", "El hereje" e "Los Santos Inocentes", Delibes recebeu em 1993 o prêmio Cervantes, considerado o Nobel das literatura espanhola. Membro da Real Academia Espanhola da Língua desde 1973, recebeu ainda o Prêmio Nacional de Letras Espanholas, em 1991.

Depois de viver na juventude a Guerra Civil (1936-1939), durante a qual entrou para a Marinha, em 1948, em plena ditadura de Franco, publicou seu primeiro romance, "La sombra del ciprés es alargada", com o qual ganhou o prêmio Nadal, o primeiro dos muitos que acumulou em sua carreira.

Delibes estudou direito e comércio, mas seu primeiro trabalho foi como caricaturista no jornal da região, El Norte de Castilla, no qual por acaso passou a ser redator e do qual acabou sendo diretor entre 1958 e 1963.

Ele combinou o jornalismo com a docência e a escrita até que, em 1963, se viu forçado a se demitir da direção de El Norte de Castilla devido a pressões que recebeu das autoridades e da censura por denunciar a péssima situação dos moradores do campo na região castelhana.

A maioria de seus romances, que criticam as injustiças sociais e os males da sociedade espanhola da época e saem em defesa dos mais necessitados foram adaptados para o teatro e o cinema com grande sucesso.

Além de romances, deve-se acrescentar uma extensa obra ensaística, de crônicas de viagens, jornais, livros de caça, pesca e sobre Castela.

FONTE:Extraído da AFP para fins didáticos.

“O livro é uma extensão da memória e da imaginação” (Jorge Borges)


Encontram-se reservados no acervo da Biblioteca Pública do Estado de Pernambuco, alguns exemplares da obra do Escritor e Poeta Roberto Belo.

O autor, através do seu Departamento de Literatura, solicitou a dispensação de alguns volumes para o público geral. Ele mesmo compareceu ao escritório daquela autarquia para entrega dos livros.

A Biblioteca Estadual oferece Orientação à pesquisa; Empréstimo de livros; Atividades Culturais; Acesso à Internet; Coleções Especiais e muito mais...

Para se inscrever: Comprovante de residência; Identidade e CPF (segunda a sexta-feira 8 às 21h, sábado 8h30m às 17h). Maiores Informações:3221-3716/3423-8446 Rua João Lira,s/n,Stº Amaro-Recife.

Falece José Mindlin,o homem dos livros!

O empresário e bibliófilo José Mindlin, de 95 anos, faleceu na manhã deste domingo no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, em decorrência de falência múltipla de órgãos. Ele foi enterrado à tarde no Cemitério Israelita da Vila Mariana, em São Paulo.

Mindlin, que era membro da Academia Brasileira de Letras (ABL), estava internado havia um mês para tratamento de uma pneumonia.

Ele reuniu ao longo de oitenta anos uma biblioteca, chamada Biblioteca Brasiliana, que é considerada a mais importante coleção do gênero no Brasil formada por um particular. Ele e sua mulher doaram o acervo no ano passado à Universidade de São Paulo.

O conjunto de livros e manuscritos inclui cerca de 40.000 volumes, entre obras de literatura brasileira e portuguesa, relatos de viajantes, manuscritos históricos e literários (originais e provas tipográficas), periódicos, livros científicos e didáticos, iconografia (estampas e álbuns ilustrados) e livros de artistas (gravuras).
Formado pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, Mindlin fundou a indústria de autopeças Metal Leve, onde ficou até 1996.
Fonte:Texto da Veja Online/Com Agência Estado.

O AMADOR
Quando estivermos andando pela Biblioteca Brasiliana da USP, em São Paulo, José Mindlin estará lá. Quando estudantes estiverem consultando textos, relatos de viagens, obras raras, documentos de um Brasil antigo, livros de estudo, Mindlin estará lá. Ele vai rir em alguma estante, por algum instante, quando o livro capturar alguém, e ele pensará:

— Ah! mais uma pessoa que pegou o vírus daquela doença incurável: o prazer de ler.

Doença que ele confessava ter e querer espalhar pelo Brasil. E quanto mais os vírus que ele deixou por aí se espalharem mais chances teremos.

(...)

Mindlin salvou obras do esquecimento, correu mundo atrás de nossas preciosidades desgarradas, gastou dinheiro com livros, mas não pelo prazer da propriedade. Ele era um amador.

“Amador de livros e de leitura”, escreveu Antonio Candido. Mindlin se deliciava contando a história do encontro com cada exemplar. É famosa sua história, com várias idas e vindas, de como ele conseguiu a primeira edição de “O Guarany”, de José de Alencar. Perseguiu o livro por 17 anos e acabou conseguindo...

Ele exibia orgulhoso preciosidades da sua biblioteca, como a primeira prova tipográfica que viera da gráfica, em que Graciliano, de próprio punho, riscou o título pensado originalmente “O mundo coberto de penas” e escreveu o definitivo: “Vidas Secas”. Quem admira o estilo enxuto e exato de Graciliano sabe que o livro só podia mesmo ser “Vidas Secas”. O exemplar corrigido de “Grande Sertão: Veredas” mostra cada minúcia, cada dúvida, cada corte; mostra parágrafos unidos e desunidos pelas mãos de Guimarães Rosa. É delicioso constatar que no livro, com o qual nos encantou, Guimarães Rosa trabalhou com o cuidado de um ourives.

Penso nos que se apaixonarem no futuro pelo “Grande Sertão” e puderem consultar, em computadores, digitalizadas, as páginas que foram salvas por Mindlin, para que os brasileiros se entendessem melhor. Penso nos que olharão por dentro das nossas obras-primas, lerão os relatos dos viajantes que chegaram aqui séculos atrás. Penso no privilégio que devemos a ele, o guardador de livros.

Será que chegamos ao tempo do livro eletrônico? À era da linguagem cifrada das redes sociais? Sim, chegamos. E isso é o fim do livro? Isso ameaça o tempo da colheita dos frutos semeados pelo gigante do livro, José Mindlin? Não ameaça. O mundo vai avançando e encontrando novas formas de exibir a linguagem. O livro é uma solução magnífica que tem 500 anos. Mas é a leitura que importa, o prazer da leitura é que deve ser ensinado às crianças no tempo do livro impresso ou do texto digital. O templo não são as paredes do edifício, mas o espírito que ali habita. Assim eram os livros para José Mindlin. Assim são os livros. Eles permanecerão se tiverem guardiões.

(...)

(...)

A tendência será dizer que ficamos mais pobres sem ele. Mas José Mindlin, filho de russos, nascido em São Paulo, iniciou sua biblioteca aos 13 anos, viveu a vida inteira para os livros, e doou parte desse acervo ao povo brasileiro.

No meio do caminho, fez várias coisas. Foi jornalista, porque terminou o ensino médio cedo demais para entrar na faculdade. Foi advogado, por profissão. Foi empresário, por acaso. Um dia, de um tempo doido, foi secretário da Cultura de São Paulo e escolheu, pelo excelente currículo, o jornalista Vladimir Herzog para chefe de jornalismo da TV Cultura. De lá saiu depois do assassinato de Herzog.

Mindlin foi muito e fez muito. Espalhou tanto bem que é impreciso dizer que somos mais pobres sem ele. Ficamos mais ricos, por ele.
Fonte:Texto de Míriam Leitão e Alvaro Gribel/2.3.2010(O Globo)