Literatura brasileira de pobre ou o pobre na literatura brasileira?










A temática atingiu uma infinidade de exemplos que perpetuaram o enredo de diversas obras

Vários escritores da nossa literatura buscaram recriar a trajetória do indivíduo pobre nos seus romances. A temática atingiu uma infinidade de exemplos que perpetuaram o enredo de diversas obras. Tomamos alguns exemplos: o pobre Jeca Tatu, personagem de Monteiro Lobato; o pobre Leonardo, de Vidas Secas, personagem de Graciliano Ramos; o pobre Bentinho, do clássico Dom Casmurro, de Machado de Assis. A meu ver, o pobre é representado enquanto personagem, pois causa polêmica e uma espécie de denúncia social, contrastando com as desigualdades sociais, já explicitas pela nossa sociedade.

É notável dizer que quando falamos da representação do pobre na literatura brasileira, precisamos relatar que até o último quartel do século XIX, a figura do pobre era considerada a do escravo, o negro e, secundariamente, o índio. Ou seja, a questão social misturava-se com a questão racial. Exemplos na prática? A figura do personagem malandro e pobre Leonardo Pataca, do romance Memórias de um Sargento de Milícias, que ao ser abandonado pela família acaba sendo criado pelo padrasto.

A representação do personagem pobre na nossa literatura, na realidade externa social, associava-se à doença, à imundície, à degeneração moral e ao enfraquecimento da raça. Tais características eram, em síntese, um dos alicerces teóricos do pensamento erudito da elite brasileira, até os primeiros anos do século XX. Isto é, a representação imaginária do pobre estruturava-se em função da patologia, sendo caracterizado como feio, fedido, animalesco, ignorante, rude, cheio de mitos e superstições, uma vez que idolatra o outro da burguesia bastarda na projeção de tudo o quanto ela rejeita.

Contemporaneamente falando, o favelado, outra categoria do marginalizado pobre e urbano, conseguiu achar expressão direta na obra Cidade de Deus, do escritor Paulo Lins. O escritor carioca, sobretudo, enriqueceu seu romance através de jargões específicos, as gírias tribais do contexto carioca, o falar à moda dos traficantes de drogas, dos usuários, dos moleques de rua, dos vagabundos etc.

Pausa para uma breve digressão sobre a origem do termo favela. Sua etimologia remonta ao contexto histórico da Guerra de Canudos, que ocorrera no Sertão Nordestino. Existia uma planta de nome favela na mesma região. Naquela época, os soldados que foram enviados a essa região retornaram ao Rio de Janeiro e deixaram de receber seus soldos, e logo foram se instalando em moradias provisórias no Morro da Providência, daí surgem as primeiras favelas. Enfim, o pobre na literatura ou a literatura de pobre sempre terão vez no manancial cultural brasileiro. Até a próxima coluna!
FONTE:Cristiano Mello,In Jornal Colombo.

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