Há 50 Anos Morria Albert Camus,Ardoroso Romancista


Sempre fui apaixonado por um bom texto,desde minha formação literária na Biblioteca Professor Gilberto Freyre,em Recife.Independente do Autor,da Editora e da Categoria na qual a obra está inserida,sempre respeitei e respeito um texto bem escrito.
Ora,quando tomei conhecimento da obra de Albert Camus,há algum tempo,logo pude compreender sua importância para nossa formação humanística e cultural,pois Camus revela-nos o sabor gostoso de uma boa prosa.Estou relendo A Peste,romance que desfia a lúcida aceitação do destino humano.O autor soube de fato dominar a arte literária.

“...compreendo que todo o meu horror de morrer está contido em meu ciúme de vida... sou invejoso porque amo demais a vida para não ser egoísta.” Albert Camus – A Morte Feliz

Nem fazia três anos que ele recebera o Prêmio Nobel de Literatura quando o acaso o ceifou aos 46 anos de idade, no dia 4 de janeiro de 1960. Albert Camus tinha horror à chuva e a andar de automóvel, pois morreu num acidente de carro num dia chuvoso. Aceitara uma carona para Paris do seu editor Michel Gallimard e, junto aos seus papéis, encontraram os manuscritos do que ele imaginava ser a sua terceira fase literária: Le Premier Homme, O Primeiro Homem.

Camus, antes de tudo, foi um assombro. Nascera em meio proletário, em Mondovi, na Argélia, em novembro de 1913, periferia da periferia do império francês. Era um pé-negro, um “branco de segunda classe”, segundo os critérios da época. Desde cedo atacado pela tuberculose, fez da pressa o motor da sua produção, visto que nunca imaginou conseguir sobreviver.

Antes dos 30 anos de idade, já tinha escrito suas obras fundamentais: uma novela (O Estrangeiro), um ensaio (O Mito de Sísifo) e uma peça teatral (Calígula). Viu o mundo como que governado pelo absurdo, um sem sentido que somente poderia ser suportado pelo sentimento de revolta.

Durante a ocupação da França (1940-1944), corajoso, assumiu a redação do jornal Combat para insuflar a luta antinazista. Todavia, não acreditava que a guerra fosse desembocar numa revolução radical como era desejo dos comunistas franceses. Afastou-se aos poucos também da esquerda independente comandada por Jean-Paul Sartre, a quem criticava por ser condescendente com os crimes de Stalin, tornando-se um acérrimo inimigo do totalitarismo fosse qual fosse sua tonalidade. Dessa época, seu feito maior foi a novela A Peste, de 1947, monumento alegórico da Resistência contra o invasor.

Ao receber a magna lauda em Estocolmo, em 1957, lembrou que quando as luzes do mundo se refletiam sobre ele e sua obra, inúmeros outros escritores, especialmente no Leste Europeu, viviam condenados à sombra do Estado-total, opressor das liberdades.

Uns anos antes, em 9 de agosto de 1949, Camus, viajante tenaz, desembarcou em Porto Alegre. Era um dia tenebroso do nosso inverno quando Erico Verissimo o recebeu para uma rápida passagem e uma palestra intitulada “A Europa e o crime”, que ministrou no Instituto de Belas Artes. A tísica voltara a cobrar-lhe esforço. Recuperou-se o suficiente para morrer naquele acidente estúpido que o levou quando Paris já se fazia tão próxima. Deixou-nos com ciúme da vida, com inveja dos que viriam depois dele.

Albert Camus: somos todos estrangeiros

Em “O Mito de Sísifo”, Camus também desafia o leitor logo na abertura do livro: “Só existe um problema filosófico realmente sério: o suicídio.” No romance “A Peste”, ele cria uma representação do nazismo e dos regimes totalitários ao contar a história de uma cidade devastada pela peste bubônica.

Camus faz parte daquela galeria de escritores que produziram livros como quem ergue catedrais. São verdadeiras obras de arte. Considerando os autores do seu tempo, está na companhia de Jean Paul Sartre, Ernest Hemingway, William Faulkner - todos ganhadores do Nobel de Literatura, inclusive ele, Camus, em 1957. Não é por acaso que os 50 anos da sua morte, completados em 4 de janeiro de 2010, abrem intermináveis debates sobre a importância da sua obra.

Como profeta do seu próprio destino, Camus refletiu muito sobre o absurdo da existência. E foi numa situação absurda que encontrou a morte. Enquanto tinha a passagem para fazer uma viagem de trem, optou por se deslocar de carro. O automóvel bateu numa árvore e ele morreu na hora.

Camus ganhou fama nas décadas de 1940 e 1950 a partir da publicação de “O Estrangeiro”. Era o tempo em que os intelectuais franceses (ou estrangeiros de passagem pela França, como ele, de origem argelina) ditavam modelos de pensamento, de existência, de estilo de vida e de personalidade. Amigo de Sartre, rompeu com ele por causa de divergências intelectuais. A publicação de “O Homem Revoltado”, de Camus, foi o pomo da discórdia entre os dois. Visionário, Camus também rompeu com o comunismo. Identificou antes de muita gente (antes mesmo do que Sartre) as ilusões daquela ideologia de origem marxista.

Camus esteve uma vez no Brasil. Seus escritos de viagem narram visitas a São Paulo, onde se encontrou com Oswald de Andrade, e a Iguape, no litoral sul paulista. A leitura dessas páginas, embora não sejam ficção, impressiona pela semelhança do escritor e filósofo com Mersault, o herói de “O Estrangeiro”.

No entanto, acima do homem e do existencialista, estão os seus livros. Como todo escritor de grande talento, ele criou um estilo próprio. Conciso, denso, frases curtas. Perguntas, muitas delas sem respostas, afirmações desconcertantes, negações vazias, confissões devastadoras como esta: “Eu amo a vida, eis a minha verdadeira fraqueza. Amo-a tanto, que não tenho nenhuma imaginação para o que não for vida.”

Fonte:Zero Hora(Voltaire Schilling) e Jornal Cruzeiro do Sul(Carlos Araújo).

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