Reverência aos 90 Anos de João Cabral de Melo Neto


Em 09 de janeiro de 1920,nasceu na cidade de Recife,o engenhoso João Cabral de Melo Neto,Poeta e Diplomata;primo dos escritores Manuel Bandeira e Gilberto Freyre.

Desde a publicação de um dos meus títulos no mercado editorial, venho observando certas semelhanças,digo,coisas comuns entre mim e certos autores, como este fazendeiro de palavras que lançou,assim como eu, sua primeira obra, Pedra do Sono, aos 22 anos de idade,obra também poética.

Hoje completaria noventa anos de idade, caso estivesse vivo, mas infelizmente o perdemos em 09 de outubro de 1999(aos 79 anos),ano que pensávamos que seria agraciado com o Prêmio Nobel de Literatura.Excluindo o Nobel,ele recebeu vários outros títulos importantes como Neustadt International Prize for Literature — 1992;Prêmio Rainha Sofia de Poesia Ibero-Americana — 1994 e o Prêmio Camões.

Sua obra poética, caracterizada pelo rigor estético, com poemas avessos a confessionalismos e marcados pelo uso de rimas toantes, inaugurou uma nova forma de fazer poesia no Brasil.Quando o leitor é confrontado com a poesia de Cabral percebe-se, a princípio, de um certo número de algumas dualidades antitéticas, por vezes obsessivas. Entre espaço e tempo, entre o dentro e o fora, entre o maciço e o não-maciço... Entre o masculino e o feminino, entre o Nordeste desértico e a Andaluzia fértil, ou entre a Caatinga desértica e o úmido Pernambuco. É uma poesia que causa algum estranhamento porque não é emotiva, mas sim cerebral. Melo Neto não recorre ao pathos ("paixão") para criar uma atmosfera poética, mas a uma construção elaborada e pensada da linguagem e do dizer da sua poesia.

Jogue a primeira pedra quem nunca leu Morte e Vida Severina (1966)?Difícil não rir e chorar com os versos ali desenhados,com a vida ali recriada.Melo Neto sabia como ninguém escrever a história de sua gente,do seu povo,do ser humano.Estou relendo essa maravilha da criação e ouvindo o musical na voz de Chico Buarque de Holanda.

"...E não há melhor resposta
que o espetáculo da vida:
vê-la desfiar seu fio,
que também se chama vida,
ver a fábrica que ela mesma,
teimosamente, se fabrica,
vê-la brotar como há pouco
em nova vida explodida;
mesmo quando é assim pequena
a explosão, como a ocorrida;
mesmo quando é uma explosão
como a de há pouco, franzina;
mesmo quando é a explosão
de uma vida severina."
(Morte e Vida Severina)

João Cabral de Melo Neto nos mostrou que além da morte está a vida,que além do sofrimento está a alegria,por isso ele dá ênfase ao filho do retirante José “Estais aí conversando/em vossa prosa entretida:/não sabeis que vosso filho/saltou para dentro da vida?/Saltou para dentro da vida/ao dar seu primeiro grito...”

Algumas obras:Os Três Mal-Amados (1943);O Cão sem Plumas (1950);O Rio ou Relação da Viagem que Faz o Capibaribe de Sua Nascente à Cidade do Recife (1954);Quaderna (1960);A Educação pela Pedra (1966);Morte e Vida Severina (1966).

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